sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O vinho

Uma vez que a água que aqui deixei despertou a sede de alguns visitantes e que prometi a um e a outro que arranjaria outra bebida para a confraternização nesta esquina, aqui deixo todos os vinhos do Algarve.

Cada um escolha o que preferir. Sim... sim... o Algarve também é terra de bom vinho e até de vinhos premiados, e premiados.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O canto da água


Corre clara ao despenhar-se no tanque e canta, alegre, o seu destino de rega.

Invejo-lhe a leveza e o conforto da certeza da missão que lhe compete e que cumpre a cada impulso, a cada ordem da válvula que, ali ao lado, a mão do homem por seu turno comanda.

E ela só corre e canta.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O creme encantador

Poderoso, exclusivo, eficaz, inovador, concentrado, intenso, reparador…

É assim que costumo ver descritos os cremes de beleza.

Mas há um creme de beleza cuja descrição inesperada me levou à certa. Então, não é que a sua embalagem reza assim:

Adorável produto de beleza que transmite à sua pele um encantador tom de frescura

E ainda:

Dissimulante das rugas e dos desfeitos da epiderme

E mais:

Admirável defensor da pele contra as rugas e o envelhecimento. Dá um lindo aspecto aveludado, faz desaparecer os pontos negros, manchas, pano e borbulhas e auxilia a fixação do pó de arroz”.

Ora, este creme que é adorável e admirável é igualmente uma deliciosa creação da Fábrica Nally. É o creme Benamor, que, se bem lembro, chegou a morar no pechiché da minha mãe. Dei de caras com ele no hipermercado e não resisti a este produto vintage, com tantos e inusitados atributos a povoarem-lhe a embalagem.


Será desta que fico bela?



sábado, 23 de outubro de 2010

Sedução


Nem que eu me vire de costas para o pôr-do-sol... O danado acaba sempre por me seduzir!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A vida secreta dos objectos - o alguidar amarelo

Tinha que me calhar a mim o destino de servir para demolhar o bacalhau.
Sou sempre eu.
Não há direito de uma pessoa ser conotada com uma função e daí em diante não lhe atribuírem nenhuma outra.
É que nem aos alguidares da minha geração que aqui chegaram comigo, nem àqueles jovenzinhos peneirentos que de vez em quando vão surgindo de novo cá em casa, lhes é alguma vez dado o bacalhau a demolhar.
Ah pois é! Vêm muito pimpões, cheios de soberba, mas não sabem é nada da vida. Conservam uma carninha temperada, apenas por algumas horas até à sua confecção. Enchem-se, por minutos de cascas de cenoura e batata, quando ela prepara a sopa. Mas logo, logo, são lavados e arrumados sem cheiros de monta. Já para não falar daqueles maiores a quem saiu a sorte grande e que só servem para carregar a roupa lavadinha e cheirosa até ao estendal.
Mas aguentar o cheiro do bacalhau por mais de 24 horas seguidas… isso sobra sempre e só para mim. E ainda por cima, enfiado dentro do frigorífico, sofrendo os rigores das baixas temperaturas, seja Verão ou Inverno.
Estou revoltado.
Para além do mais, quando chega o momento de me lavar ainda tem de ser com lixívia para disfarçar o fedor. É que até dói!!!


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

I want to ride my bicycle...

Até não sou muito de bicicleta. Gosto mais de andar a pé. Mas uma destas, devidamente personalizada, até me levava ao pedal.
Trata-se de um projecto de um designer suíço, a viver em França e aqui podemos ver os demais protótipos.


terça-feira, 19 de outubro de 2010

O grilo

Todas as noites quando eu ia colocar o lixo no contentor, ali estava ele a cantar ruidosamente. Era mesmo junto à minha casa, naquele pedaço de passeio que continua à espera de ser reconstruído. Ali, na terra que sobrou das obras de saneamento básico, nasceram ervas daninhas que se encostaram a algumas pedras soltas de calçada e foi quase de certeza por debaixo delas que ele escavou o túnel que conduzia ao seu esconderijo. De volta a casa, depois de ter atirado o saco do lixo para o contentor, eu parava junto dele. Nunca o conseguia ver. Mas aposto que ele me via a mim. Sim, porque a certos movimentos meus ou posições que eu tomava, ele de repente silenciava o canto. Eu, muito quieta, esperava. Então, mais à vontade, ele recomeçava. Se eu me mexia, ele parava de novo. Por alguns instantes eu ficava ali, nesta espécie de jogo de esconder com o grilo que me ensurdecia a rua. Depois, chamada à realidade pelas tarefas domésticas que ainda me aguardavam em casa, regressava à minha vida.

Hoje dei conta do silêncio naquele local. E, pensando bem, o silêncio não é de hoje. Nem sei para quantos dias vai que já não ouço o grilo. Das duas uma: ou lhe chegou fêmea à porta de casa e estará em lua-de-mel no fundo do seu buraco, ou então chateou-se da vida, saiu para comprar cigarros e até agora não voltou.

domingo, 17 de outubro de 2010

Passeio de Domingo (20)



Pelo campo e com direito a brinde, que o gafanhoto não me queria largar a camisola nem por nada.

sábado, 16 de outubro de 2010

C'est beau la vie

Porque às vezes nos esquecemos de como a vida é bela.

Le vent dans tes cheveux blonds
Le soleil à l'horizon
Quelques mots d'une chanson
Que c'est beau, c'est beau la vie
Un oiseau qui fait la roue
Sur un arbre déjà roux
Et son cri par dessus tout
Que c'est beau, c'est beau la vie.
Tout ce qui tremble et palpite
Tout ce qui lutte et se bat
Tout ce que j'ai cru trop vite
A jamais perdu pour moi
Pouvoir encore regarder
Pouvoir encore écouter
Et surtout pouvoir chanter
Que c'est beau, c'est beau la vie.
Le jazz ouvert dans la nuit
Sa trompette qui nous suit
Dans une rue de Paris
Que c'est beau, c'est beau la vie.
La rouge fleur éclatée
D'un néon qui fait trembler
Nos deux ombres étonnées
Que c'est beau, c'est beau la vie.
Tout ce que j'ai failli perdre
Tout ce qui m'est redonné
Aujourd'hui me monte aux lèvres
En cette fin de journée
Pouvoir encore partager
Ma jeunesse, mes idées
Avec l'amour retrouvé
Que c'est beau, c'est beau la vie.
Pouvoir encore te parler
Pouvoir encore t'embrasser

Te le dire et le chanter

Oui c'est beau, c'est beau la vie

Comida

Por alguma razão lhe chamam comida de plástico. Cá por mim, e já que hoje é Dia Mundial da Alimentação, antes quero uma pratinho de papas de milho.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Chuva

Se tem que chover, que chova. Que me importa? Mas que chova noite dentro. Que chova quando eu me tiver recolhido em casa e fechado as portas. Melhor, que chova quando, de luzes apagadas, eu me tiver recolhido entre os lençóis. E pode até a chuva dançar com o vento e roçar o seu vestido pelas minhas janelas. Que chova, enquanto me deixo envolver pelos encantos de Morfeu. Que chova, como canção de embalar. E pode até chover de madrugada. Que chova aquela chuva enfurecida, batendo fortemente nos telhados. Que chova para eu poder ouvi-la na hora em que, mesmo sem querer, vou acordar. Se tem que chover, que chova. Que chova enquanto posso desenrolar e enrolar de novo o corpo, no tempo ainda morno da manhã. Mas quando chegar o dia, que se retire. Que perca a sua força e se desvaneça nos primeiros raios de sol que vão brilhar. E quando eu pisar de novo o chão da rua, que apenas sobre o seu cheiro. Que sobre nas paredes e nos beirais onde pequenas gotas ainda vão escorrer. Que sobre na terra rubra do caminho e nas folhas fatigadas da alfarrobeira. Que sobre mesmo só o cheiro da chuva.



Publicado para a Fábrica de Letras

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Almareada

Chego a ficar almareada* só de ouvir na rádio aqueles anúncios de medicamentos ou então de serviços bancários, quando o locutor chega à parte das letras pequeninas e as quer despejar todas de repente para dentro dos escassos segundos que lhe sobram do tempo de antena.

*que é como quem diz, na minha terra, tonta.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Os pimentos


Chegaram da horta empoeirados. Mas piscaram-me o olho e rendi-me ao seu rubro fulgor. Hão-de ser bem lavados e depois de enxutos, serão cortados em largas tiras que, cobertas de sal grosso irão ajeitar-se em camadas e descansar por alguns dias, em local fresco. Serão dias de preparação psicológica para a transformação que terão de sofrer. Porque há-de chegar depois a máquina trituradora, que presa ao bordo da mesa, há-de moê-los sem dó nem piedade. Desfeitos, serão depois acondicionados em grandes frascos de vidro e sobre eles se derramará uma leve porção de azeite. A despensa ficará então abastecida da massa de pimentão necessária aos cozinhados que se hão de fazer.

Apoquentada

Apoquentam-me estas breves falhas de memória que me surpreendem os movimentos e, por segundos, me dependuram as acções. Apressada viro-me para o frigorífico. Abro a porta e de repente fico suspensa sem saber o que tencionava de lá retirar. Porém, em breves segundos, o pensamento traz-me de volta a intenção. Só que entretanto, que aflição!

domingo, 10 de outubro de 2010

Passeio de Domingo (19)



Pela serra algarvia, entre Silves e Monchique e à volta de Odelouca, trincando um ou outro medronho que por esta altura se oferece à apanha.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Bébé digital

Ainda bem não nasceram e já têm perfil na internet. Pais babados partilham cada vez mais fotografias e outras informações sobre os seus filhos menores nas redes sociais. Um estudo internacional que incidiu sobre 2 200 famílias norte-americanas, europeias, japonesas, australianas e neo-zelandesas refere que 81% das crianças menores de dois anos já estão em linha e que uma em cada quatro até já está presente na net antes mesmo de nascer, com a publicação de ecografias. Esse estudo revela também que apenas 3,5% dos progenitores se preocupam com as consequências futuras dessa sua prática. É que essas informações irão “perseguir” os seus filhos ao longo da sua vida.

Na verdade não podemos pensar que somos “donos” dos nossos filhos…

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

De pedra

Devia ser de pedra
o coração.
De forma que aguentasse
qualquer golpe.
Podia até abrir uma fenda,
de vez em quando.
Só para deixar passar
algum sopro de ternura.
E logo se havia de fechar.
Até para a não deixar
escapar. A ternura.
Mas tal como muralha,
tal como fortaleza invencível,
devia ser de pedra
o coração.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O louva-a-deus


Vai para uns cinco dias que este louva-a-deus se instalou nas fitas da porta da minha cozinha. Ora está pendurado do lado de fora, ora está do lado de dentro. Como ao que parece estes bicharocos são carnívoros e se alimentam de outros insectos, penso que deve por ali andar à caça de moscas. Olha que belo aliado para a minha cortina de fitas...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Azeitonas


É tempo de azeitonas britadas. São as minhas preferidas. Irresistíveis.

Por estes dias apanham-se as azeitonas, ainda verdes. São pisadas, uma a uma, com uma pedra e com o cuidado de não lhes partir o caroço. São colocadas de molho numa salmoura. Ao fim de uns dez dias devem estar capazes para se lhes acrescentar o tempero: alho esmagado e orégãos. Muitos orégãos.