terça-feira, 6 de março de 2012

A Lurdes

Estava sentada na paragem do autocarro. Era ela. Só podia ser ela. E eu não conseguia deixar de olhar para ela, para ter a certeza. Chegou o autocarro. Subimos. Ela não tinha reparado em mim. Tive de perguntar. És tu? Lembras-te de mim? Ah…há quanto tempo?

Trinta anos. Trinta anos por aí que não nos víamos. Claro que era ela. Claro que nos reconhecemos. Estamos iguais. Iguais. Sem contar com algum peso a mais. Sem contar com uma ou outra ruga. Ah mas eras tão lourinha… agora tens o cabelo mais escuro, diz ela. Pois é. Escureceu com o tempo e com a cor que veio para disfarçar a cor do tempo.

Falamos dos filhos. Do trabalho. Da vida. Lembras-te?

Sim.

Mas no meio da conversa há uma ou outra história, uma ou outra pessoa de que não me consigo lembrar. Disfarço. Como é possível ela lembrar-se e eu não? Sem nos procurarmos encontrámo-nos. Sabemos agora uma da outra. Ela sabe que ainda continuo no mesmo local de trabalho. Eu fiquei a saber do novo local de trabalho dela.

Voltaremos a nos encontrar? Talvez. Não sei. Regresso a casa com uma estranha felicidade. É esquisito encontrar o passado assim, numa paragem de autocarro.



7 comentários:

  1. É sempre bom reencontrarmos alguém que, em que algum momento da nossa vida nos foi importante (de alguma forma)!
    Tenho a certeza que foi um reencontro muito agradável! Beijinhos

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  2. Recuar no tempo e nas memórias, umas vezes agradável... outras... nem tanto ;)

    Bjos

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  3. É muito curioso a memória e falta dela das pessoas. Num jantar com antigos colegas de liceu, uma amiga lembrava-se dos nomes completos dos antigos colegas e nº de turma, enquanto outra, tirando aqueles com quem conviveu mais, não se lembrava de absolutamente ninguém. Diziam-lhe: "Ah, tu és a Graça, andaste comigo no 5º ano." E ela nada. "Então e não te lembras da Zulmira, que andou connosco no 6º e no 7º e tocava violino?" Não havia meio de se recordar. Confesso que eu estava entre as duas, meio aparvalhada com aquela conversa de surdas... Uma com uma memória prodigiosa (não, a minha está longe de chegar a tanto!) e a outra completamente desmemoriada. :)

    Mas que é sempre agradável encontrar gente que fez parte do nosso passado - desde que agradável, claro! - lá isso é! :D

    Beijocas!

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  4. E vá lá que ainda há paragens de autocarro!

    É tão difícil as pessoas se encontrarem!


    Saudações poéticas

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  5. Eu tenho 25 anos e já me arrepiei algumas vezes com a maravilha que é encontrar alguém que não vejo há 2 ou 3 anos... Um (re)encontro desses é qualquer coisa...! =)beijinhos

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  6. O passado sempre nos surge de uma forma ou de outra!
    Quanto mais não seja nas nossas memórias.
    Compuseste um texto muito lindo.
    Beijos.

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  7. Há passados que nos reconfortam e outros que nos angustiam. Gosto dos primeiros e tenho tido alguns reencontros felizes

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