quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os dias


Nem o azul diário do céu parecia aliviar-lhe o tormento. Nem o sol que teimava em brilhar lhe aquecia a alma. Nem o riso das gentes que alegremente cruzavam o seu caminho lhe contagiava a vida. Nem o esforço que fazia para esquecer a dor resultava. Nem a raiva que sentia lhe acalmava o ser. Até que um dia, fim de tarde, saindo à rua, percebeu.

Nada como um dia atrás do outro.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Lembro-me

Lembro-me. Lembro-me de ser pequena e de olhar para aquela porta que tinha um postigo alto. Tinha que levantar a cabeça para ver o postigo envidraçado. À minha volta gente crescida conversava. E ouvia-se uma música na rádio. Eu lembro-me assim. Não sei se a memória me traz esta imagem como realmente aconteceu ou se é uma memória que se juntou a outras memórias e agora se confundiu. Mas lembro-me. Lembro-me de passar junto daquela porta e de olhar para o alto e de ver uma parte do exterior através do postigo envidraçado. Nevava. Nevava? Ou seria apenas a música que passava na rádio que falava da neve? Eu lembro-me de olhar pelo postigo alto e de ver nevar lá fora. Tanto quanto nevava na música que passava na rádio. Lembro-me que havia gente crescida na sala. A memória diz-me que eram as educadoras do jardim-de-infância. Só não sei se esta é a memória certa. Ou se me está a pregar uma partida. Talvez as educadoras pertençam a outra memória. E quem sabe se a neve faz parte de outra memória ainda. E que dizer da música que passava na rádio? Não sei ao certo. Mas é assim que me lembro.






domingo, 26 de fevereiro de 2012

sábado, 25 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Moleskine

Veio com palavras de oiro. Veio com cheiro de rosas. Veio cheio de amor e de desenhos por fazer.

E agora… como é que o vou preencher?

Vou fingir que tenho mão firme e que o traço me obedece. Vou marcar em cada folha o que o coração ditar. E se nem sempre o risco do carvão me obedecer, juro, não vou desanimar. Basta-me virar a página e de novo começar.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A vida secreta dos objetos - a fotografia

Há pouco ela passou por aqui e olhou-me como se me tivesse visto pela primeira vez. Notei-lhe emoção no olhar. Estou aqui exposta nesta pequena moldura há já tanto tempo e só hoje é que ela me olha desta forma? Sempre que limpa o pó ela pega na moldura e passa-lhe com o pano. Nessas ocasiões ela também olha para mim. Mas entretida que está na sua tarefa, nunca parece ver-me. Hoje senti-a diferente. Olhou-me como se quisesse trocar de lugar comigo.

Fui tirada nos anos sessenta do século passado. Prepararam o cenário ajeitando os vasos de flores que enfeitavam o pátio da casa. Era uma casa com as paredes de escaiola. O sol a brilhar… a claridade ideal para fixar o momento. Colocaram-na junto aos vasos e dispararam. Foi assim. E é assim para sempre. Eu sou o preciso momento em que ela resmungava porque não queria tirar o retrato. Eu sou o momento eterno. E ela que passa por mim tantas e tantas vezes olha-me hoje de uma forma estranha. Como se quisesse extrair de mim o que já foi. Consigo compreendê-la. Percebo o fascínio que lhe causo. Mas não lhe posso devolver o que aprisionei em mim. Hei de sobreviver-lhe. Eu e o instante que sou.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Passeio de domingo (85)


Um passeio em campo seco para perceber que, por muito que nos agrade um céu limpo, já convinha que chovesse.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Desafios… e correntes.

Eu sei que já venho tarde e a más horas para responder ao desafio que a Sofia me passou há duas semanas atrás, mas o prometido é devido e depois de ter andado um bocado afastada aqui da Esquina, sempre vou tentar dar alguma resposta de jeito (ou não) às perguntas desta corrente.

1-Nome da minha música favorita?

Eu sabia que isto não ia dar certo. É que eu acho que não tenho só uma música favorita. Depende dos dias. Assim sendo, vou indicar uma atual: Perdóname de Pablo Alboran com Carminho; e vou indicar uma antiga: La Bohême de Charles Aznavour.

2- Nome da minha sobremesa favorita?

Eu sabia que isto não ia dar certo. É que acho que não tenho só uma sobremesa favorita. Depende dos dias. Assim vou apontar uma que me apetece hoje: tarte de limão.

3-O que me tira do sério?

Quando me interrompem a torto e a direito e fico sem conseguir terminar o que estou a dizer.

4- Quando estou chateada?

Nem me quero lembrar!

5-Qual o meu animal de estimação favorito?

Eu sabia que isto não ia dar certo. É que eu acho que não tenho um animal de estimação favorito. À parte disso, posso dizer que em pequena tive um peixinho vermelho. E é costume haver cães cá em casa.

6- Preto ou branco?

Ora preto, ora branco.

7- Maior medo?

Eu sabia que isto não ia dar certo. É que tenho medo de tanta coisa. Às vezes chego a ter medo da minha própria sombra.

8- Atitude quotidiana?

Olhar para o lado bom da vida.

9- O que é perfeito?

Sentir-me em paz.

10- Culpa?

Esforço-me por reconhecê-la… mas que custa, custa.


Sete factos aleatórios sobre mim:

1-Tenho quase sempre os pés frios.

2- Às vezes falo sozinha. Quando dou por isso acho que estou a ficar xexé.

3- Não sei andar devagar.

4- Mas sou muito lenta noutras coisas. A escrever, por exemplo.

5- Era capaz de me dedicar a uma vida meramente contemplativa.

6- Gosto de dormir, mas já não consigo levantar-me tarde.

7- Sou especialista em quebrar correntes



Agora as regras:

Colocar o link da pessoa que te ofereceu o selo

[Eh lá… Sofia, não vi selo nenhum, só mesmo o desafio das perguntas.]

Preencher o formulário das perguntas

[Feito… mal ou bem, mas feito.]

Partilhar sete factos aleatórios sobre nós

[Já está…já está.]

Oferecer a 7 blogues e informá-los

[Lá está. Eu sabia que isto não ia correr bem. É que eu sou especialista em quebrar este tipo de correntes. E assim não vou passar a ninguém, ao mesmo tempo que passo a todos os que quiserem fazer este exercício.]

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Passeio de domingo (84)


Este domingo sabia que não ia poder passear, então tratou de encomendar uma voltinha a outro dia da semana- Foi pela cidade de Faro e totalmente de cabeça no ar.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Carro de praça


Já ninguém diz “o carro de praça”.
Ninguém… é como quem diz, porque ainda há dias ouvia as vizinhas à conversa e uma delas trouxe de volta esta expressão. E lembro-me que era assim que, em criança, ouvia os mais velhos falarem. Não diziam táxi. Diziam carro de praça. Já não se usa. Mas é giro.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Chapéu Preto

Pela manhã vendo na Tv. uma notícia sobre um grupo jovens músicos, os Melech Mechaya, percebi que tocavam e reinterpretavam um tema popular que ouvi muitas vezes a minha mãe cantarolar. Das várias estrofes da cantiga, a que mais se me fixou na memória foi:

Ó que lindo chapéu preto
Naquela cabeça vai
Ó que lindo rapazinho
Para genro de meu pai

Por curiosidade fui googlar o tema e encontrei a letra.
A interpretação dos Melech Mechaya agradou-me. Se calhar na música, tal como na natureza, nada se perde…tudo se transforma.





terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Malaguetas

Ali, num recanto da horta crescem as malaguetas. Estão junto à vedação e uma pequena haste soltou-se para o lado de fora. Que liberdade quererão estas duas pimentinhas? Que tentativa de fuga é esta? Acaso pensam que escaparão ao seu destino de condimentar um cozinhado?

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Passeio de domingo (83)




No passeio de hoje, resolvi armar-me em observadora de aves. Foi aqui mesmo, pelos caminhos da aldeia. Mas dá cá uma trabalheira...


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um olhar


Há só um olhar.

Um olhar mínimo. Centrado na fachada. Debruçado na varanda.

Há só um olhar.

Minúscula, passo.

Passo pela sombra, porque o sol já se encontra no lado de lá. Mas deixou ali a claridade. Está espelhada na languidez da cal e no olhar da casa que me fixa sem pudor.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Maintenant je sais


Hoje tropecei nisto. Lembro-me de o ouvir quando era criança. Lembro-me de gostar da voz e da melodia. Agora vejo que gosto da letra. E não… não estou ainda nos sessenta toques do relógio, mas já sei que nunca sabemos. Nunca sabemos nem sequer “ o ruído  nem a cor das coisas”.


Quand j'étais gosse, haut comme trois pommes,
J'parlais bien fort pour être un homme
J'disais, JE SAIS, JE SAIS, JE SAIS, JE SAIS

C'était l'début, c'était l'printemps
Mais quand j'ai eu mes 18 ans
J'ai dit, JE SAIS, ça y est, cette fois JE SAIS

Et aujourd'hui, les jours où je m'retourne
J'regarde la terre où j'ai quand même fait les 100 pas
Et je n'sais toujours pas comment elle tourne !

Vers 25 ans, j'savais tout : l'amour, les roses, la vie, les sous
Tiens oui l'amour ! J'en avais fait tout le tour !

Et heureusement, comme les copains, j'avais pas mangé tout mon pain :
Au milieu de ma vie, j'ai encore appris.
C'que j'ai appris, ça tient en trois, quatre mots :

"Le jour où quelqu'un vous aime, il fait très beau,
j'peux pas mieux dire, il fait très beau !

C'est encore ce qui m'étonne dans la vie,
Moi qui suis à l'automne de ma vie
On oublie tant de soirs de tristesse
Mais jamais un matin de tendresse !

Toute ma jeunesse, j'ai voulu dire JE SAIS
Seulement, plus je cherchais, et puis moins j' savais

Il y a 60 coups qui ont sonné à l'horloge
Je suis encore à ma fenêtre, je regarde, et j'm'interroge ?

Maintenant JE SAIS, JE SAIS QU'ON NE SAIT JAMAIS !

La vie, l'amour, l'argent, les amis et les roses
On ne sait jamais le bruit ni la couleur des choses
C'est tout c'que j'sais ! Mais ça, j'le SAIS... !