quinta-feira, 25 de setembro de 2014

domingo, 21 de setembro de 2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O latim

Enquanto manuseio um venerável dicionário de latim-francês, imagino o estudante de Coimbra, nos longínquos anos de 1800, a consultá-lo na aula e a gerir o seu enfado desenhando retratos do professor e dos colegas nas margens do calhamaço com mais de mil páginas. Desenha também iniciais com profusão, o seu nome, repetido à exaustão, assim com o da cidade.
Dias há em que se inspira e verseja. Leio e enterneço-me com as suas doces palavras.


Sigo folheando a relíquia e vejo que o romântico estudante também tem dias com pendor escatológico.  Acho graça. Por certo, o estudante de Coimbra dos longínquos anos de 1800 nunca imaginou que, passado mais de um século, alguém que, nem seu descendente é, viesse a bisbilhotar-lhe os devaneios.



Em qualquer caso, o latim deve-lhe ter feito mossa. É que o estudante de Coimbra, entendeu dever fixar para a posteridade, na margem de mais uma das folhas do dicionário, a data em que concluiu a disciplina.



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Fotografias

De vez em quando perco-me entre velhas fotografias. Há pouco, peguei no álbum que guarda os anos 70 e 80 do século passado. Gosto de dizer século passado. Parece que estou num livro de história e que falo de acontecimentos remotos. Se calhar falo mesmo. Aquelas fotografias parecem ter uma eternidade. Estão lá os casamentos das primas e das amigas. Piqueniques. Festas de aniversário. Está a marina de Vilamoura quando ainda a usávamos como praia. Estão rapazes de bigode e garrafas de refrigerante Fruto Real. Está certo que os bigodes até estão de volta mas quando é que eu me ia lembrar de uma garrafa de Fruto Real?

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Inveja

Invejo quem tem a palavra fácil. Falada ou escrita, mas fácil. Dura ou meiga, mas fácil. Parca ou abundante, mas fácil. É uma inveja diária que me assalta a cada palavra que não digo, a cada palavra que não escrevo. É uma inveja que me dói, de uma dor semelhante à que se cumpre a cada palavra que, muito a custo, digo ou escrevo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Leonor

Leonor já não vai descalça. Soube-o hoje na fila da caixa do supermercado. Já não vai descalça e pareceu-me bem segura do alto dos seus espantosos 72 anos. Digo espantosos porque não lhe dava mais de 62. Antes de ficar na sua cola, na caixa, já a tinha tido à minha frente na fila do talho. Comprou bifanas. Para eles… Pois que, para ela, tinha lá uns carapaus alimados de que gostava muito. Desenvolta, varreu dois ou três corredores à procura de outros bens de que precisava enquanto o talhante lhe cortava a carne. Junto à caixa, para pagar, vi que era assídua no supermercado. Conhecia pelos nomes as empregadas e instava-as a despacharem-se, porque as filas estavam longas. Com tanta gente a precisar de trabalhar e só duas caixas em funcionamento, repetiu duas ou três vezes. Passou uma sua conhecida para a fila da caixa ao lado. Cumprimentaram-se. Fiquei assim a saber que se chamava Leonor. Distraí-me entretanto das conversas que Leonor já tinha retomado com a rapariga da caixa. Voltei a tomar atenção quando a ouvi dizer que não podíamos gastar mais do que ganhávamos.  Que ela sabia o que eram tempos difíceis. Nasceu nua e descalça. E descalça andou até aos 14 anos. E mesmo então só calçava os sapatos duas vezes por semana. Para ir ao cinema, por exemplo. Era de uma terra bonita, dizia. Das Caldas da Rainha. Pagou e saiu. Eu também. Vi que ela seguia rua abaixo, à minha frente. Muito enxuta nos seus corsários cor de laranja, Leonor já não vai à fonte nem anda descalça. Vai à sua vida, formosa e bem segura.

domingo, 7 de setembro de 2014

Passeio de domingo (211)



Passeio matinal na praia do Garrão, com o tempo a mostrar alguma nostalgia, em solidariedade com quem goza o seu último domingo das férias de verão.








sábado, 6 de setembro de 2014

SPA

Resolvi escrever aqui sobre um problema que há vários anos vem afetando a minha família. É um mal que atinge apenas os elementos do sexo masculino: o marido e o filho. Ao longo do tempo, tenho observado a forma como se manifesta e, não tarda, estarei apta a publicar um qualquer artigo científico sobre a matéria.

A SPA, ou síndrome da porta aberta, pode surgir a qualquer momento do dia ou da noite e incide, na maioria das vezes, na porta do frigorífico ou na da despensa. O pequeno armário onde o estão guardados os medicamentos de toma diária também costuma ser alvo dos surtos de SPA.

Claro que quando as crises se manifestam com a porta do frigorífico, a situação é mais problemática. Com as portas dos armários e da despensa a questão não passa de um mero incómodo estético. Mas com o frigorífico, o aborrecimento é maior. Força o motor, criam-se camadas de gelo, pinga água para o chão, sobe a conta da eletricidade… Enfim, uma dor de cabeça.

Como referi anteriormente esta síndrome apenas afeta os elementos do sexo masculino da família. O pior é que se trata de um problema de difícil reconhecimento. Vejamos a reação do mais velho. Se a porta do frigorífico está aberta, quase de certeza que não foi ele que a deixou assim. E se assim sucedeu é porque o frigorífico não está devidamente colocado. A sua inclinação não é a mais correta e devido ao peso das coisas que se encontram arrumadas na porta, dá-se o caso da mesma não se fechar como deveria.

Diagnosticada a causa, decide-se resolver já, já o problema. Afina-se a inclinação do frigorífico e pronto. Agora a porta já não precisa de ser empurrada para fechar. Basta largá-la e ela, suavemente, fecha-se como deve ser.

 Ah, finalmente.

Mas não. A síndrome da porta aberta é tramada para recidivas. Passado algum tempo, em qualquer momento, a qualquer hora do dia ou da noite, damos com a porta do frigorífico aberta. O que foi agora? Ah, pois. O mesmo elemento masculino da família puxou a gaveta da fruta para retirar um pêssego e não a empurrou devidamente. E ali ficou encalhada, mais uma vez, a porta do frigorífico.

A par da SPA, os elementos masculinos da minha família também padecem frequentemente da STG ou síndrome da tampa do garrafão. Os sintomas são muito semelhantes aos da SPA e traduzem-se no facto do garrafão ficar quase sempre destapado depois de se ter despejado água para o jarro, por exemplo. Tanto a SPA como a SPG acabam por afetar os familiares dos doentes que estão constantemente a fechar portas de armários e de frigoríficos ou ainda a enroscar tampas nos garrafões de água.  Já pensei até criar um movimento qualquer, uma associação de familiares de pessoas que padecem de SPA, por exemplo, para poder trocar experiências e saber que não estou sozinha nesta luta.

Ou estarei?


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Tchim-tchim

O casal de ingleses estava na mesa mesmo em frente à minha. Ao longo do meu jantar fui acompanhando também o deles. Começaram pelas ostras. Não percebo absolutamente nada de vinhos mas o deles era branco, ou verde… sei lá. Era certamente um vinho apropriado para mariscadas. Mantinha-se fresco no balde de gelo encostado à mesa. 

Os filhos, pequenos, comeram uma bonita posta de peixe grelhado com arroz branco. Saudável. 

Os adultos prosseguiram com uma monumental travessa de camarões tigre grelhados.  Não a conseguiram terminar. Camarão tigre enche. Se enche. Quase no fim do repasto, ele, bem mais velho que ela, pede um qualquer vinho francês ao empregado. Vinho francês não havia mas foi-lhes logo ali proposto um tinto, não sei de que região, colheita de 2007. Veio o vinho, foi decantado, provado e aprovado pela senhora, balões servidos. Mais alguma coisa? Não. Sobremesa? Não. Só o vinho mesmo. Bebido e de novo servido. E mais um copo. E outro ainda. Tchim-tchim.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Diário de férias #6


Veraneante em casa própria confirma que, na sua terra, setembro também é azul.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Barranco das Belharucas

Há trinta anos atrás fazíamos piqueniques no pinhal sobranceiro à praia do Barranco das Belharucas. Partíamos em grupo, com manta para espalhar no chão, sobre a caruma, e farnel para um dia inteiro. Gozávamos a sombra e os cheiros das pinhas. Descíamos o desfiladeiro que leva até à praia e refrescávamos os corpos na maré. Quando a fome marcava o meio-dia voltávamos ao pinhal, falésia acima. Entre comes e bebes ensaiavam-se namoros, jogava-se às cartas e até se fazia ginástica. Ali estou eu, naquela fotografia, deitada de costas, mãos suportando as ancas, pernas esticadas na vertical, como querendo tocar no céu com a ponta dos pés. Risotas. A tarde daria lugar a nova caminhada até à praia e a mais um banho de mar.


De vez em quando, volto ao Barranco das Belharucas. A praia está quase na mesma. Esplendorosa. Só já não encontro o lugar dos piqueniques. Foi engolido pelo tempo, pelos hotéis e pelas casas de férias.