quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Angélicas e flor de baunilha

Soou a musiquinha que assinala o fim da lavagem da roupa e eu interrompo o breve tempo de leitura blogueira para me atarefar junto ao tambor da máquina, retirar as peças de vestuário para o grande alguidar e dirigir-me para o estendal, debaixo do telheiro das traseiras. 

De cada blusa que agarro, de cada camisa que estendo, de cada calça que penduro, chega-me o cheiro fresco da roupa lavada. É o cheiro novo do amaciador que estreei. Angélicas e flor de baunilha, diz a embalagem. Eu nem sei bem o que são angélicas. Acho que são feiticeiras da noite que, esta noite, transformaram a minha corda de secar roupa num laboratório de perfumista.

A vida é bela (108)



... quando posso jogar às escondidas com um camaleão.


segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Sorrisos

A senhora vestia um biquíni daqueles com um pequeno triângulo de tecido abaixo dos rins; daqueles de modelo brasileiro; daqueles para deixar bronzear o bumbum, como dizem os nossos irmãos dos trópicos. A verdade é que a senhora tinha um traseiro, pode-se dizer, jeitoso. Duas nádegas bem redondas e, aparentemente firmes, bambolearam descontraidamente até à zona da rebentação.   Aí, a senhora dobrou-se, de rabo para o ar, procurando a água com as mãos e deixando ver dois sorrisos de pele branca no alto de cada uma das suas coxas.

domingo, 28 de agosto de 2016

Passeio de domingo (320)


Este domingo roubou o passeio de quarta-feira. Teve de ser, já que, este verão, só às quartas-feiras se tem aberto o portão do castelo dePaderne e eu, que nunca tinha entrado no interior da fortificação, resolvi aproveitar. Deixo-vos calor, vastos horizontes, paredes de taipa, pedras antigas, pedaços de História.










sábado, 27 de agosto de 2016

Amarelo

Era um casal com um filho. Ficaram os três a escassos metros de mim. O miúdo teria uns sete ou oito anos, eles rondariam os 40. Despiram-se e mostraram as bonitas cores de praia dos seus fatos de banho, ele de calção amarelo, ela de biquíni cor-de-rosa. Falavam italiano. Era um dia sem vento e sem nuvens. Era um dia perfeito, de azul.

O tempo de eu ir até à água, o tempo apenas de me refrescar e não mais vi o biquíni cor-de-rosa. À minha frente, enquanto o filho brincava na areia molhada, os calções amarelos davam-me nas vistas, num plano inclinado de joelhos em terra, a triangular com a linha das coxas e do tronco que se apoiava em antebraços chegados atrás.

Confirmei mais uma vez que gosto do amarelo.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A poça de maré


Vi-me hoje, com oito ou nove anos de idade, nadando numa poça de maré. Essa imagem que me acompanha há tanto tempo, num quadro de perfeita saudade, materializou-se esta manhã mal pus os pés nas águas mornas e cintilantes que, com vagar, iam escorrendo por pequenos regatos até à zona de rebentação. Não mais de trinta centímetros de altura e uma suave carícia abaixo dos joelhos. A outra, a dos meus oito ou nove anos, seria com certeza um pouco mais profunda. Mas tinha a mesma limpidez, a mesma correnteza, a mesma alegria. Fiquei ali, parada, olhando o mar e agradecendo a leve brisa que, a custo, contrariava a força do sol das onze horas.



domingo, 21 de agosto de 2016

Passeio de domingo (319)



Em tempo de férias todos os dias se parecem com o domingo. Por isso, não sendo propriamente de hoje, este, com apenas três dias, serve na perfeição. A praia é a da Rocha Baixinha e a hora é entre as nove e as dez da manhã, comprovando-se que madrugar compensa.









sábado, 20 de agosto de 2016

whp

A rede das fotografias móveis diz-me que o projeto deste fim de semana se chama bookworm. Adiro, não adiro, adiro, não adiro…?

É que o coitado do livro que resolvi resgatar da estante e tenho agora entre mãos para (re)leitura de férias, apresenta-se amarelado e com algumas manchas de idade. Ficará bem na fotografia? É claro que, para o efeito, posso sempre escolher outro. Ou vários. Ou a estante toda. Mas se é precisamente este que agora leio… Pensando bem, tem estado arrumadinho vai já para uns quarenta anos. Para além das manchas, tem folhas ásperas e cheiro doce. O cheiro doce do papel velho é bom. Mas o cheiro não se vai notar na fotografia. Uma pena. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Milagres


Para ti, multiplicarei as luas. A desta noite e quantas mais quiseres.
Infinitos de luas, até.

Pequenos milagres de luz. Só para saciar o sonho. 

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Galos

São cinco da tarde e ouço os galos a cantar. Não é normal os galos cantarem a esta hora. Todos sabemos que os galos cantam cedo pela manhã e que o fazem para nos acordar. A esta hora, o normal é ouvirmos apenas as cigarras. E elas cumprem. Estão lá fora nos seus postos de trabalho – de trabalho sim, que são elas as mais esforçadas artistas do verão – soltando, do seu abdómen, as estridentes e incessantes notas que nos embalam os dias de calor. Estranho, por isso, o som altivo que, adivinho, sai do galinheiro da minha tia. Podia até ser do galinheiro do meu pai. Mas não. Olhando para lá, para de onde vem o canto, percebe-se perfeitamente que este se alinha numa diagonal, vindo do lado esquerdo do pomar, até chegar aqui à minha varanda. Se fossem os galos do meu pai, a linha de som viria a direito, na perpendicular ao meu horizonte. São, sem sombra de dúvida, os galos da minha tia. Não sei o que querem anunciar. Não será o dia, certamente, que este já vai longo. A não ser que os pobres tenores, tal como eu na noite passada, tenham interrompido o sono por conta das músicas dos DJs que, madrugada dentro, foram batucando, batucando, batucando e chegaram até aqui trazidas pelo vento. De mal dormidos, precisaram de uma sesta e agora, coitados, acordaram com o despertador do avesso. 

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Sementes

Há caminhos em que colho sementes que se grudam ao corpo, penetram-me a pele, percorrem-me as veias, abrasam-me o ventre, conquistam-me a alma. 

domingo, 14 de agosto de 2016

Passeio de domingo (318)


Um passeio da série "bichos perto de casa". Deixo-o também com uma nota especial para a Susana e a sua voz à solta, onde, num destes dias, falámos do misto de fascínio e temor. Neste caso, todos me fascinam e talvez só a um destes insetos acrescente o temor. 








terça-feira, 9 de agosto de 2016

Calma


Na hora da calma, sigo pelas ruas que me conduzem ao almoço. Caminho rente às paredes abrigando-me na estreita nesga de sombra que ainda subsiste junto a alguns prédios com varandas. O sol castiga-me o braço que não logra ser alcançado pela benesse desse abrigo. Apresso-me para fugir do calor infernal.

Na fila dos tabuleiros do self-service vou fazendo o meu prato enquanto o dono do restaurante explica a um pequeno grupo, no seu melhor francês, como funciona o estabelecimento. O seu melhor francês é até muito bom. Atesto-o. Ainda assim o sistema da comida a peso parece difícil de entender para os quatro turistas e o pobre homem, rapaz, que ainda é novo, tem de explicar uma e outra vez até que finalmente decidem experimentar. Allez, on va bien voir.

Instalaram-se numa mesa ao fundo da sala e eu, de costas para eles, não consegui saber se afinal viram bem ou viram mal.

domingo, 7 de agosto de 2016

Passeio de domingo (317)


Escusado será dizer que a máquina fotográfica tem estado de férias. Retomo, por isso, as fotografias do último passeio que a dita deu, já lá vão três semanas. O dia até estava parecido com o de hoje. A praia é a da Falésia (Alfamar).