sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Faro

Caminho pela cidade, na hora de almoço, repartindo o olhar ora pelo céu, ora pelo chão que piso. Miro as fachadas dos prédios e encanto-me com quase tudo. Só me deprimem os pais natais dependurados nas varandas. Tristes e desesperadas personagens sintéticas que balançam ao vento a caminho das janelas, sem nunca alcançarem o seu destino. À parte estas pobres criaturas, tudo me encanta. Até a ruína eminente de portas fechadas a cadeado que escondem o vazio das salas e dos corredores de casas ao abandono; até os vasos esquecidos com flores secas encaixados nos suportes de ferro, pregados às paredes das ruas antigas. Alegro-me com o céu azul, o sol quente, o vento frio, as esplanadas cheias. Emociona-me o namoro de um casal de pombos no rebordo da muralha da cidade velha. Alimenta-me do cheiro da ria que enche o ar de dezembro.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Um verso

Abro um pequeno bloco de notas para fazer correr os aparos das canetas que hoje estiveram de barrela. Em dia de arrumação de uma ou duas gavetas, resgatei-as do esquecimento, lavei-as em abundante água para remover a tinta seca e abasteci-as, cada uma com a sua cor.

Mas dizia eu, o bloco de notas. O bloco de notas estava quase por estrear. Apenas tinha um verso anotado numa folha. O verso e o sítio de onde o copiei. Estava manuscrito num exemplar de 1691 do Magnum dictionarum latinum et gallicum, de Petrus Danetius e não sei quem o escreveu.  Em todo o caso, roubei-o.

“Estas lágrimas que choras
Deviam cair no meu seio,
Como um punhado de amoras”

domingo, 25 de dezembro de 2016

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Natal

Este blogue entra em modo Natal e deseja, a todos que por aqui passem, boas festas.






segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O desenho

Há um homem que desenha, sentado sob a árvore. Vejo-o daqui, no ecrã do computador. E aqui, por detrás do ecrã do computador, estou eu a desenhar o homem que desenha sentado sob a árvore. Talvez eu também esteja no ecrã do computador de alguém, que me estará desenhando, enquanto desenho o homem que desenha sob a árvore. 

domingo, 18 de dezembro de 2016

sábado, 17 de dezembro de 2016

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A pressa e o castigo

Calhou de ir apressada, ao fim da tarde, fazer o abastecimento de chocolates e afins para a época natalícia. Entrando no supermercado que sei, por ser costume, ter castanhas glaceadas, iguaria que não dispenso, avisto uma conhecida no início do primeiro corredor, onde se expõem os brinquedos. A pressa diz-me que se vou por ali fico a falar com ela e atraso-me. Desvio, por isso, a rota e vou direta ao corredor dos doces onde, habitualmente, estão os chocolates festivos. Fora uns ferrero, uns rafaelos e vulgares tabletes de chocolate, não vejo por ali sombra de Natal.

Irritada com a minha infrutífera investida, acabo por comprar alguns produtos necessários à cozinha e passo pela caixa onde, enquanto pago a conta, desabafo com a menina que já me estende o talão da máquina. Pergunta-me onde procurei e explica-me que não, que este ano decidiram juntar o Natal todo no corredor de entrada do supermercado, aquele onde não passei para fugir da minha conhecida e da presumível arrastada conversa.

De castigo, fui de volta ao corredor do Natal e, contas feitas, com uma passagem suplementar pela caixa, perdi o tempo e perdi a conversa. Só se salvaram mesmo os marrons glacés.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A prenda

O Natal aproximava-se e ele não sabia ainda o que oferecer-lhe. Pensou um pouco e decidiu que lhe iria dar uma palavrinha.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A lua e o estendal

A lua ainda não está perfeitamente redonda. Faltam dois dias para a sua glória cíclica. Mas que interessa isso? Não preciso da perfeição do traço. Basta-me o seu brilho. E como brilha. Passei agora mesmo por ela, para lá e para cá a caminho do estendal. É uma boa desculpa, o estendal. Ele e o alguidar cheio de roupa que levo apoiado na anca. A tarefa impõe-se mas, a meio caminho da função necessária, permito-me o devaneio. Paro uns instantes e olho-a, como se de olhos nos olhos, embevecida. Nesta contemplação, adornada pelo cheiro lavado da roupa por estender, disperso-me em mil pensamentos, tantos quantas são as pequenas estrelas luzentes que acompanham a diva na limpidez noturna. Como é bom de ver, a lua e o estendal revelam-se uma combinação perfeita para o escape momentâneo da dona de casa. Ah… A lua, o estendal e um osga que ainda não hibernou e continua, noite após noite, na parede do alpendre, à caça de alimento.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Passeio de domingo (335)


Este domingo resolveu tirar folga e, em vez de passear, faz uma espécie de resumo dos passeios da semana que findou. Foram passeios ao coração do outono, pelas aldeias de xisto das Beiras e Serra da Estrela.












Cross

É quase noite. Mentalizo-me para o regresso ao trabalho depois de uma breve semana de pausa. Exercito a disposição com a ajuda da minha nova caneta. O presente de Natal antecipado escreve com tinta castanha e o som do aparo, quando desliza sobre a folha de papel do caderno de bolso, traz-me o necessário conforto. Fica-me tão bem na mão. Não me canso de olhá-la. Fora ela, só a lua que brilha lá fora, quase cheia e a pedir, não tarda, mais um post.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Hora azul

Guardei, para ti, a hora azul de hoje.

Guardei-a numa pequena cápsula de vidro transparente para que possas, querendo, abri-la de vez em quando e libertá-la em teu redor. Não esqueças, porém, que é uma hora breve – nem sei porque lhe chamam hora se ela é um mero instante -  e, se te atrasares a guardá-la de novo, poderás perdê-la para sempre.


domingo, 4 de dezembro de 2016

Passeio de domingo (334)


Em domingo de chuva, pouco dado a passeio, chegou-se à serra  por caminhos esquecidos e comprou-se aguardente de medronho na destilaria.








sábado, 3 de dezembro de 2016

Mau tempo


A persiana está frouxa e estremece com a força do vento que não dá tréguas à tarde de sábado. A medir forças com ele está a chuva que escorre dos telhados, lambe com fúria as paredes, cobre de névoa as vidraças. Refugio-me num velho roupão de malha, aqueço água para o chá, procuro o frasco do mel, corto ao meio o limão. Arranha-me a garganta. Hum.Hum.Hum.Não tenho bolachas mas se quiseres fazer-me companhia, há tostas, requeijão e doce de abóbora.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

ffffffffffff

Na secção estatística do blogue, gosto de ver que pesquisas trouxeram gente até esta esquina. Normalmente é fácil perceber a que post foram parar. Normalmente.

Hoje, consultando a dita secção encontro a expressão ffffffffffff e por muitas voltas que dê à cabeça não estou mesmo a ver nem o que era procurado, nem o que encontraram. Fui eu própria ao Google colocar lá o fffffffffffff, fartei-me de correr páginas mas não encontrei nada meu.  Quem aqui chegou montado no ffffffffffffffff teve, por certo, mais paciência do que eu para consultar os resultados.

Agora faço um post todo ele ffffffffffffffff,  coisa para facilitar pesquisa.