sábado, 27 de maio de 2017

Ontem de tarde

O caminho até ao carro cresceu, agora que o faço com vagar forçado. Sigo de olhos postos no chão para não correr o risco de tropeçar num desnível da calçada. Ainda meio coxa, com passos pequenos, a medo, sigo desejando que cada técnico e cada político responsável pelos passeios das cidades sofra uma entorse, razoavelmente grave, a ponto de influenciar a sua escolha de pavimento nas próximas obras que empreender. Concentro-me no empedrado irregular da calçada e quase não vejo o que se passa à altura dos meus olhos. Só nos atravessamentos de ruas levanto a cabeça e alargo horizontes. O meu azedume quebra-se um pouco e sorrio quando me preparo para cruzar uma passadeira entre dois carros e vejo a mulher que conduz um deles apanhar o cabelo que lhe aquece a nuca e prendê-lo no alto da cabeça com uma mola de roupa azul.

14 comentários:

  1. Caminhar em olhar atento ... recomenda-se!!!bj

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  2. Há assim umas improbabilidades que nos salvam o dia!...:)
    Gostei.

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  3. Ahahaha, Sempre com o olhar de fotografa!!!
    Bjs

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  4. Um dia pede a alguém que te acompanhe enquanto caminhas pelos passeios, para tirar fotografias de todos os buracos que encontrarem nesses passeios em condições perigosas para depois as enviares para alguns jornais comunitários ou nacionais de forma a chamares a atenção para essa negligência
    inadmissível

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  5. Ainda que perecível calçamentos prontos a nos derrubar... você, Luíza poetiza a cena! Beleza!
    Abraço.

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  6. Vai devagar, mas qualquer dia já anda quase sem olhar o chão, habitua-se de novo. E pode fotografar.
    Hummm...um mola da roupa. Bem feito e melhor observado.
    Melhorinhas das convincentes

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  7. Gracinha,
    É o que faço. O medo de torcer o pé ainda não totalmente refeito é grande.

    Tb,
    O inesperado sempre nos surpreende. Bem-vinda a este espaço. :)

    Papoila,
    Há coisas que não escapam… :)

    Catarina,
    A questão é mesmo sobre a escolha que em Portugal se faz para pavimentar os passeios das localidades. Bem sei que a calçada é tradicional mas penso que bastaria manter aquela que tem valor histórico e patrimonial. A questão é que se continua a optar por blocos de pedra que já não são colocados com os devidos cuidados e que são do mais desconfortável que existe para caminhar. Pior ainda quando as raízes das árvores entram em cena e quando se soltam pedras abrindo buracos. Resultado não temos cidades acessíveis e as pessoas com mobilidade reduzida sofrem ainda mais.

    Célia,
    Digamos que tento libertar a tensão com algum humor. Não sei se isso é poesia. :)

    Bea,
    Anseio por esse dia. Agradecimentos absolutamente convencidos. :)

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  8. Nunca tinha pensado nessa utilidade para uma mola :)

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  9. Devia ser o que tinha à mão :)) Eu já prendi o meu com um clip eheheh

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  10. Gábi,
    Nem eu... :)

    GM,
    Pois devia. O que também não deixa de ser engraçado pois ela estava no carro, a conduzir... :)

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  11. Luísa, gosto muito do olhar que pões nas coisas.
    e sim, acho que é poesia :)

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  12. Obrigada, Laura! Poesia têm seguramente as tuas pequenas coisas. :)

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  13. Vou passar a olhar para as molas com outros olhos, depois de ler este post!...
    É sempre possível descobrir uma utilidade alternativa, das coisas...
    Beijinhos
    Ana

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  14. Ana,
    Eu também nunca tinha pensado nesta função para uma mola de roupa. Mas agora também não preciso, cortei o cabelo... :)

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